Na verdade amigos este artigo é longo e por isso, vou dividi-lo em algumas postagem, espero que gostem e comentem e divulguem em suas redes sociais para maior alcance dessas linhas bem tramadas pelo referido autor.
CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
A Educação Física brasileira precisa
(...) resgatar a capoeira enquanto manifestação cultural, ou seja,
trabalhar com a sua historicidade, não desencarná-la do movimento
cultural e político que a gerou (Coletivo de Autores, 1992, p.76).
Neste trabalho, apresento minha
experiência pedagógica desenvolvida no Colégio Estadual Doutor Gastão
Vidigal, no município paranaense de Maringá, Núcleo Regional de Ensino
de Maringá, onde realizei a fase de implementação do material didático
do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado
da Educação do Paraná (SEED), turma de 2007, junto aos alunos das
primeiras séries do ensino médio, turmas J, K, L e M, do período
vespertino, durante as aulas regulares de Educação Física (EF). A
implementação do material didático do PDE foi realizada no primeiro
trimestre de 2008.
A partir de março de 2007, procurei
potencializar o ideal político do PDE - no que se refere à forma
inusitada de capacitação de professores da rede pública estadual de
ensino do Paraná - empreendendo uma pesquisa que abarcou temas complexos
e densos como indústria cultural, pós-modernidade, identidade cultural,
globalização, esportivização e EF. Este estudo procurou desvelar o
percurso histórico da capoeiragem à luz dos pressupostos da teoria
crítica, a partir do conceito de indústria cultural. Procurei, ainda,
identificar as diferentes formas pedagógicas inseridas no universo
capoeirístico a partir dos diálogos mantidos com a Educação Física e,
especialmente, com os elementos estruturadores da realidade
sócio-histórica que a determinam. O itinerário destas reflexões ensejou
um material didático que procurou fornecer o aporte necessário à
afirmação dos fundamentos pedagógicos africanos presentes na Capoeira
Angola como justificativa à sua inserção nas aulas de EF na condição de
componente alternativo à atual prática hegemônica esportiva. Este
material didático resultou numa monografia intitulada: “Educação Física e
Capoeira: Cultura Popular e Indústria Cultural no Jogo de Roda”.
A oportunidade de estudar estas questões
significou devolver ao aluno, à escola, à EF e à sociedade um fragmento
da expectativa e confiança depositadas no mundo acadêmico por tantos
brasileiros historicamente vitimados pela carência absoluta de
experiências desta envergadura.
VAMOS AGORA AO ÍTEM 01 DO TEXTO...
O Brasil, pelas suas condições
particulares desde meados do século 20, é um dos países onde essa famosa
indústria cultural deitou raízes mais fundas e por isso mesmo é um
daqueles onde ela, já solidamente instalada e agindo em lugar da cultura
nacional, vem produzindo estragos de monta. (Milton Santos)
O mundo contemporâneo, marcado
vigorosamente pela mundialização da indústria cultural e suas relações
com a crença numa nova ordem social proporcionada, sobretudo, pelo
empuxo das tecnologias da comunicação, assinala uma inusitada
manipulação das consciências e abala todas as convicções consolidadas na
modernidade. É a partir da derrocada da lógica, do desencanto que se
instala sobre a identidade e a cultura (acompanhados da crise de
conceitos fundamentais ao pensamento moderno tais como “verdade”,
“razão” e “legitimidade”) que se inicia a partir da década de 1960, a
pós-modernidade, entendida por Frederic Jameson como a lógica cultural
do capitalismo tardio (JAMESON, 1994). Em que pese as polêmicas em torno
do ato de se conceituar a pós-modernidade, concordo com Loureiro e
Della Fonte (2003, p. 15-16), segundo os quais:
A caracterização clássica do conceito de
pós-moderno é a de Loyotard (2000). Segundo esse autor, o advento do
pós-moderno se relaciona às mudanças amplas ocorridas a partir do final
dos anos 50: a saber, muda o estatuto ao mesmo tempo em que as
sociedades entram na “idade pós-industrial” e a cultura na idade
“pós-moderna”. O termo pós-moderno designa o estado da cultura após as
transformações que afetaram as regras dos jogos das ciências, da
literatura e das artes a partir do século XIX. (...) Lyotard considera
pós-moderna a incredulidade em relação aos metarrelatos (...), do apelo
da ciência a idéias de progresso e emancipação.
De acordo com Jameson (1985, p. 26), "a
emergência da pós-modernidade está estritamente relacionada à emergência
desta nova fase do capitalismo avançado, multinacional e de consumo”. O
perfil pós-moderno do modo de produção capitalista caracteriza um
período no qual as mudanças tecnológicas são tão amplas e rápidas que
transgridem a capacidade humana de pensá-las, senti-las e ponderar sobre
elas. É a validação da provisoriedade, em que as certezas tornam-se
relativas e os meios de comunicação já não apenas informam, produzem
hábitos e valores voltados ao consumo dos produtos de uma indústria
cultural que se vê cada vez mais mundializada.
Na pós-modernidade, os interesses
hegemônicos do capital agudizam seu cerco às questões culturais,
mergulhando o ser humano numa realidade globalizada que proclama a si
mesma como redentora da humanidade pelo espraiamento mundial dos
produtos da indústria cultural camuflados sob o pseudônimo de
“conhecimento”. Como consideram Lastres; Cassiolato; Maldonado; Vargas
(1998, p. 01),
A emergência de um novo paradigma
tecnológico e a globalização financeira são os traços mais marcantes da
economia mundial nos últimos 15 anos. Estreitou-se ainda mais a
integração da economia mundial, enquanto a revolução tecnológica se
difundia rapidamente, porém de forma desigual, mesmo entre as principais
economias avançadas. (...) No contexto internacional da década de 1990,
uma das características principais das intensas mudanças observadas nos
processos produtivos relaciona-se à crescente intensidade de
investimentos em conhecimento.
Contudo, para além do véu das
aparências, a globalização não abdica da exploração econômica, da
injustiça e da desigualdade. Referindo-se aos conflitos oriundos das
desigualdades no mundo globalizado, Duarte (2007, p. 150) cita os
seguintes números:
Nos últimos 15 anos os rendimentos do
capital cresceram 59% enquanto aqueles oriundos do trabalho,
praticamente não cresceram, i.e., tiveram um acréscimo de apenas 2%. Nas
últimas duas décadas a produção mundial aumentou de 4 para 23 trilhões
de dólares norte-americanos, enquanto o número de pobres nesse período
aumentou em 20%. No que concerne à participação dos mais pobres na renda
mundial, a parcela diminuiu de 4% em 1960 para 1% em 1990. A
concentração chegou a um ponto em que 358 bilionários possuem hoje mais
da metade de tudo que a humanidade percebe.
As inovações tecnológicas incessantes
aplicadas ao mundo das comunicações tendem à supressão das fronteiras
nacionais. As trocas de bens culturais desestabilizam antigos e
consagrados sentimentos de identidade e pertencimento. De acordo com
Hall (2003), como decorrência dos processos mundiais de globalização,
que esfacelam tempo e espaço, a identidade encontra-se descentrada,
deslocada e fragmentada, com sensível abalo em seu quadro de
referências.
O sujeito pós-moderno, (...) não tem uma
identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se uma
‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às
formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam. (HALL, 2003, p.12-13)
No mundo globalizado as identidades
locais são “reinventadas” a partir de uma amnésia social que prescreve
um modelo cultural para que todos – ricos, pobres, judeus, muçulmanos,
cristãos, brancos, negros, índios, asiáticos e mestiços – se
identifiquem. Apaziguam-se as desigualdades como resultado de um
processo de aculturação. O que questiono aqui não é o declínio das
identidades culturais calcadas no modelo do Estado burguês, mas a
reformulação das identidades culturais populares, obediente
unilateralmente à volubilidade do mercado de bens culturais
industrializados.
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