sábado, 18 de junho de 2011

NÍVEL DE FLEXIBILIDADE DO QUADRIL EM PRATICANTES DE CAPOEIRA

Esta Monografia foi apresentada por Mestre Touro à Universidade Federal do Piauí – UFPI como requisito para conclusão do Curso de Licenciatura Plena em Educação Física.

RESUMO

A capoeira é um esporte que exige de seus praticantes certo nível de flexibilidade da articulação do quadril, para que sejam realizados gestos com grande mobilidade articular sem riscos de lesões. O presente estudo tem como objetivo avaliar o nível de flexibilidade do quadril em praticantes de capoeira da zona norte de Teresina-Piauí. Trata-se de uma investigação descritiva com característica de estudo de caso, a amostra foi composta por 35 sujeitos voluntários do sexo masculino, com idade média de 24,34 anos. Os sujeitos foram avaliados através do teste de sentar e alcançar, proposto originalmente por Wells e Dillon (1952) e, classificados de acordo com o nível recomendado para saúde sugerido por Nieman (1999). Os dados coletados foram exportados para o programa Microsoft Excel (2007), para que fossem calculados os valores médios, percentuais e desvio padrão. Os resultados demonstraram que 65% dos capoeiristas estão acima do nível recomendado para saúde. Conclui-se que a prática regular da capoeira é uma atividade esportiva que pode proporcionar a aquisição, manutenção e o aumento da flexibilidade no quadril de seus praticantes.


Palavras-chave: Capoeira, flexibilidade, quadril.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a capoeira vem passando por um processo de expansão. Essa modalidade que por muito tempo foi proibida de uma forma severa, atualmente é praticada nos mais variados locais, tanto no Brasil como no exterior. Segundo Vieira (1995) a capoeira é uma modalidade de luta praticada ao som de cânticos e instrumentos musicais, o mesmo autor afirma que esse combate foi criado no Brasil, como uma das estratégias de resistência física e cultural à escravidão.
Silva (2008c) relata que a capoeira possui aspectos característicos de um eficiente sistema de defesa pessoal e de treinamento físico. No treino e nas rodas de capoeira, o praticante executa movimentos que trabalham várias qualidades físicas, dentre elas, encontra-se a flexibilidade, que de acordo com Platonov (2003) é definida como mobilidade articular, que compreende as propriedades morfofuncionais do aparato locomotor, que determina a amplitude de distintos movimentos.
A maioria dos movimentos da capoeira são realizados com os membros inferiores, dessa forma é indiscutível a necessidade de um bom nível de flexibilidade na articulação do quadril, pois, essa articulação é uma das principais dos MMII em razão do número de movimentos que ela proporciona. De acordo com os estudos de Barbanti (1989) a flexibilidade possibilita a execução de movimentos com grandes amplitudes de oscilação nas várias articulações participantes. Achour Júnior (2009) complementa ao afirmar que ela é considerada um importante componente da aptidão física, relacionada à saúde e ao desempenho atlético.
Segundo Nahas (2001) a flexibilidade varia conforme a idade e o nível de atividade física, e as pessoas pouco ativas e com mais idade são, em geral, menos flexíveis, com menor mobilidade articular e elasticidade muscular. Conforme Dantas (1999) para que haja o desenvolvimento da flexibilidade é necessário que os exercícios realizados atinjam a máxima amplitude de movimento. Observa-se que a capoeira solicita de seus praticantes uma grande amplitude nos movimentos dos membros inferiores. Portanto, especula-se que a prática regular da capoeira poderá desenvolver a flexibilidade do quadril nos capoeiristas.
Diante do exposto, o objetivo desse estudo é avaliar o nível de flexibilidade em praticantes de capoeira da zona norte de Teresina – Piauí. A fim de responder a seguinte indagação: qual o nível de flexibilidade do quadril em praticantes regulares de capoeira? E assim, possibilitar a inferência da prática regular da capoeira na aquisição, manutenção e no aumento da flexibilidade do quadril de seus praticantes.
A estrutura do estudo que aqui se apresenta, esta delineada de forma a dar resposta aos objetivos previamente formulados e, simultaneamente, fornecer alguma consistência teórica ao quadro prático em que se desenvolve. Deste modo, acredita-se, ser fundamental promover de forma clara o entendimento dos assuntos aqui expostos, para isso, a estrutura desse estudo está classificada em cinco capítulos.
No primeiro capítulo, aborda o problema e introduz o ambiente no qual se desenvolve o estudo e explica as razões que levaram à escolha do tema. No segundo capítulo, apresenta a referência bibliográfica no âmbito da capoeira, flexibilidade e da articulação do quadril. No terceiro capítulo, descreve-se a metodologia utilizada, nomeadamente no que se refere à caracterização da pesquisa, amostra, ao instrumento e aos procedimentos para coleta e análise dos dados. No quarto capítulo, realiza-se a análise e discussão dos resultados. Por fim, no quinto capítulo, apresenta-se as considerações finais do estudo.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO
2.1 CAPOEIRA: ORIGEM E CONTEMPORANEIDADE

A origem da capoeira é um assunto que gera controvérsias no meio capoeirístico, pois, existem três correntes de pensamentos que dividem opiniões: a africana, a brasileira e a afro-brasileira. Capoeira (1998) afirma que a capoeira nasceu de uma mistura de diversas lutas, danças, rituais e instrumentos musicais vindos de várias partes da África e, que essa mistura foi realizada em solo brasileiro, durante o regime de escravidão. Para Santos (1990) a capoeira surgiu no Brasil por um processo de aculturação, em prol da liberdade humana da raça negra, escravizada pelos dominantes na época do Brasil colonial.
De fato, a teoria mais aceita entre os estudiosos é que a capoeira é uma manifestação afro-brasileira. Estes entendem que ela se desenvolveu no Brasil no período da escravidão, como luta de resistência aos seus opressores, inspirada em gestos de animais, rituais e costumes africanos. Rêgo (1968) é um dos autores que defende essa idéia, em sua obra ele afirma que a capoeira nasceu no Brasil, criada pelos africanos e desenvolvida pelos seus descendentes afro-brasileiros.
A prática da capoeira foi proibida e duramente reprimida pelo Código Penal de 1890, a partir desse momento os capoeiristas não tiveram mais sossego, eram vítimas das mais diversas barbaridades, não precisavam estar em ação ou ser autuados em flagrante, bastava apenas ser capoeirista (AREIAS, 1998). Apesar da proibição imposta pelo governo, os praticantes de capoeira continuaram a exercitar a sua arte às escondidas, em quintais, nas praias, nos arredores das cidades e transmitiram os seus ensinamentos às gerações futuras.
Em 1930, Getúlio Vargas liberou uma série de manifestações populares, dentre elas, a capoeira. Como luta, deveria ser exercida apenas como defesa pessoal e esporte, praticada em locais fechados e por pessoas consideradas “idôneas e de bem”, devendo assim, transformar-se em esporte nacional (AREIAS, 1998). A partir desse momento, a capoeira passou a ser praticada em todos os lugares das cidades.
Dentro desse contexto, surgiram dois grandes nomes da capoeira, Mestre Bimba e Mestre Pastinha, esses dois mestres são os principais representantes dessa arte. Mestre Pastinha é considerado pelos mestres mais famosos de sua época como o mais perfeito capoeirista do estilo Angola, esse estilo é caracterizado por um jogo lento, cadenciado, com movimentos furtivos, executados próximo ao solo. Já mestre Bimba, é o criador da capoeira Regional, estilo de capoeira que surgiu a partir da união da capoeira angola com o batuque, esse estilo é marcado por uma movimentação mais veloz, golpes sequenciados e acrobáticos. De acordo com Mello (2002) uma vertente não anula a outra, nem tampouco a ela se sobrepõe, ambas se complementam, formando o universo simbólico e motor da capoeira.
A musicalidade é a principal característica que diferencia a capoeira das outras lutas. A roda de capoeira se desenvolve ao som de uma orquestra (bateria) formada por três berimbaus, um atabaque, dois pandeiros, agogô e reco-reco. Os capoeiristas também utilizam canções, que não servem apenas para acompanhar os ritmos dos instrumentos, mas para transmitir ensinamentos.
Nos últimos anos o número de praticantes de capoeira tem passado por um processo de expansão, acredita-se que essa aceitabilidade seja um reflexo da diversidade que a capoeira oferece em sua prática, pois, a capoeira pode ser trabalhada nos seus mais variados aspectos: dança, arte, luta, defesa pessoal, desporto, lazer, educação, folclore, preparação física e filosofia de vida. Atualmente a Capoeira é praticada em variadas instituições da sociedade, como escolas, academias, universidades, clubes, centros comunitários e projetos sociais.

2.4 CAPOEIRA E FLEXIBILIDADE

O jogo (luta) da capoeira é um confronto entre dois praticantes, em que eles mostram as suas capacidades de ataque e defesa. A sucessão de movimentos gera uma verdadeira dança metafórica, com gestos harmoniosos, flexíveis e ágeis. Por esse motivo é frequente as pessoas falarem que para praticar capoeira é necessário que o corpo tenha um alto nível de flexibilidade. No entanto, os saltos e os movimentos que exigem maior flexibilidade e agilidade na capoeira, são consequências da aprendizagem e não o contrário (SILVA, 2008a).
Uma grande parte da preparação física dos capoeiristas é voltada para o aumento da flexibilidade. Os treinos de capoeira iniciam com um leve aquecimento, em seguida são realizados alongamentos e flexionamento, muitas vezes, baseados nos próprios movimentos da capoeira. Segundo Dantas (1999) o alongamento é empregado para manutenção dos níveis de flexibilidade e o flexionamento para o desenvolvimento da flexibilidade.
É perceptível a utilização dos membros inferiores na grande maioria dos movimentos realizados na capoeira, logo, o uso do quadril é inevitável, pois, sabe-se que é essa articulação que permite os movimentos desses membros. O mais frequente é que se somem vários movimentos do quadril e que se realizem em direções mistas, como por exemplo: flexão + abdução, extensão + adução ou extensão + abdução.
Um dos movimentos mais conhecidos na capoeira é a ginga, nela o capoeirista se posiciona com uma perna flexionada e a outra estendida, a ginga é a matriz, a origem de todo o repertório da capoeira, é a partir da ginga que o capoeirista realiza os demais movimentos (SILVA, 2008a).
Assim como a ginga, vários movimentos utilizados na capoeira como: esquiva, meia-lua, armada, queixada, benção e tantos outros, necessitam de uma boa flexibilidade na região do quadril para que possam ser realizados com grande amplitude, próximo ao seu limite máximo, com suavidade, graça e de forma harmônica. Dantas (1999) afirma que uma boa flexibilidade permite a realização de arcos articulares mais amplos, possibilitando a execução de movimentos e gestos desportivos que, de outra forma seriam impossíveis.
A flexibilidade geral dos praticantes de capoeira tem tendência a ser maior do que a flexibilidade de sedentários e de atletas de determinadas modalidades esportivas, pois, o corpo do capoeirista funciona como um pêndulo, o qual realiza movimentos para trás e para frente, para baixo e para cima, de um lado para o outro, logo, na capoeira tudo é movimento (SILVA, 2008b).
É importante ressaltar os benefícios que a flexibilidade proporciona ao praticante de capoeira, sabe-se que quanto maior índice de flexibilidade, menores são as chances dos movimentos provocarem lesões e que essa valência física melhora consideravelmente a técnica, agilidade e a coordenação motora, fatores sumamente importantes para o desenvolvimento do capoeirista.
A essência do jogo da capoeira pede que o seu executante adquira flexibilidade, ao contrário de outras artes marciais, embora, atualmente exista um consenso geral da importância do trabalho de flexibilidade em qualquer atividade física.

2.3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE FLEXIBILIDADE

O termo flexibilidade é derivado do latim flectere ou flexibilis, que significa “curvar-se”, ou, “habilidade de ser curvado, flexível”. A procura por uma definição para flexibilidade não é uma tarefa tão fácil quanto encontrar sua origem etimológica. É um trabalho árduo, pois envolve variados conceitos que provocam situações conflitantes entre diversos autores.
Barbanti (1981), Alter (1999a) e Achour Júnior (2009) abordam a flexibilidade no sentido de mobilidade articular, por envolver o movimento sobre articulações de forma ampla em todas as direções. De acordo com os estudos de Dantas (1999) a flexibilidade é definida como qualidade física responsável pela execução de movimentos voluntários de amplitudes máximas dentro dos limites morfológicos, dependente tanto da elasticidade muscular quanto da mobilidade articular.
Podemos classificar a flexibilidade em ativa ou passiva, é considerada ativa quando se utiliza a contração do músculo agonista, ou seja, alcança-se uma grande amplitude articular apenas pela atividade muscular, sem ajuda externa. É denominada passiva a flexibilidade que utiliza forças externas (aparelhos, parceiros, etc.) ou o próprio peso corporal para alcançar uma maior amplitude de movimento, sabe-se que a flexibilidade passiva é sempre maior que a ativa (BARBANTI, 1981).
Existem várias informações sobre os benefícios e malefícios que a flexibilidade pode causar a saúde. Entre os benefícios, incluí-se uma boa mobilidade articular, aumento da resistência à lesão e as dores musculares, diminuição do risco de lombalgia e outras dores na coluna, melhoria na postura, movimentos mais graciosos do corpo e melhoria da aparência pessoal e da auto-imagem, melhor desenvolvimento da habilidade para práticas esportivas e diminuição da tensão e do estresse (NIEMAN, 1999). Autores como Blanke (1997) citado por Marchand (2002) afirmam que a flexibilidade excessiva pode provocar instabilidade articular gerando: entorses articulares, osteoartrite e dores articulares.
As atividades da vida diária (AVDs) envolvem exercícios de flexibilidade, os quais devem predominar com exercícios ativos e dinâmicos, a fim de proporcionar à articulação maior nutrição com componentes elásticos, isso ocasionará ao praticante melhor nível de flexibilidade com o avançar da idade (MARINS 2008 apud CRUZ et al. 2010). O bom nível de flexibilidade varia de acordo com a necessidade de cada um, logo, a boa flexibilidade é aquela que permite ao indivíduo realizar os movimentos articulares, dentro da amplitude necessária durante a execução de suas atividades diárias, sem grandes dificuldades e lesões (BLANKE, 1997 apud MARCHAND, 2002).

2.5 FATORES INFLUENCIADORES DA FLEXIBILIDADE

A flexibilidade de uma articulação é determinada por quatro fatores: o formato das superfícies articulares; a tensão na cápsula articular e nos ligamentos; massa de partes moles, principalmente do músculo esquelético, circundando os ossos que formam a articulação; e a extensibilidade dos músculos esqueléticos que controlam o movimento da articulação (WATKINS, 2001 apud SCHMIDT, 2005). De acordo com Fox & Mathews (1991), as estruturas de tecidos moles contribuem para a resistência articular, sendo por ordem decrescente: cápsula articular – 47%, músculos – 41%, tendões – 10% e pele – 2%.
Os valores da flexibilidade podem ser estimados dependendo da herança genética de cada indivíduo, podendo também ser diferente em articulações bilaterais e entre pessoas da mesma família. A flexibilidade se desenvolve durante a infância e até o princípio da adolescência, e depois diminui ao longo da vida (ACHOUR JÚNIOR, 2009). Embora a flexibilidade diminua com a idade, a perda parece ser minimizada nas pessoas que permanecem ativas (ALTER, 1999a).
Em geral o sexo feminino é mais flexível que o masculino, isso ocorre devido à existência de diferenças hormonais e anatômicas. Alter (1999b) apresenta em seus estudos um argumento para essa afirmação, ele relata que o sexo feminino é adaptado à gravidez para o suporte da criança, especialmente na região do quadril. E o fato de possuir quadris mais largos do que o sexo masculino, pode indicar maiores índices de flexibilidade nessa região. O mesmo autor comenta que outro fator pode ser levado em consideração, é que no sexo feminino há maior quantidade de estrógeno, menor desenvolvimento da massa muscular e maior acúmulo de água e polissacarídeos que no sexo masculino, mas não foi feito experimento a este respeito.
Pessoas do mesmo sexo e idade podem possuir graus de flexibilidade totalmente diversos entre si, e uma grande massa muscular pode muitas vezes impedir fisicamente a finalização de diversos movimentos. Outros fatores como hora do dia, temperatura ambiente, exercícios de alongamento e fadiga, também afetam a flexibilidade e, são chamados de fatores exógenos (DANTAS, 1999).

2.6 AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE

Avaliar a flexibilidade é de suma importância, pois, é por meio da avaliação que se cria melhores condições para acompanhar o desenvolvimento da qualidade física em questão. Barra e Araújo (2007) afirmam que com a avaliação da flexibilidade podemos perceber se há correlações de lesões, dor ou recuperação dos esportistas e, que é relevante saber esses parâmetros para que se possa estimar até que grau isso pode afetar nas atividades diárias.
Os Instrumentos de avaliação precisam ser consistentes para que possam permitir uma caracterização mais precisa do nível de flexibilidade e, dessa forma contribuir para responder dúvidas e definir as implicações das possíveis diferenças da flexibilidade. Para isso Achour Júnior (2006) declara haver a necessidade dos instrumentos serem fidedignos, válidos e acessíveis para avaliar a flexibilidade das diversas articulações.
Os principais métodos para os testes da flexibilidade datam de, pelo menos, algumas décadas, mas, continuam a ser utilizados ao longo dos anos. Esses testes podem ser divididos em três grupos: testes angulares, testes lineares e testes adimensionais. Os testes angulares são caracterizados por expressar suas medidas em ângulos, o mais utilizado é a goniometria. Os testes adimensionais são aqueles que não possuem unidades convencionais de quantificação para expressarem o resultado obtido e podem ser subdivididos em dois tipos: os que atribuem valores numéricos ou pontos a determinados graus de amplitude de movimentos articulares e os que apenas classificam as resposta em sim ou não ou, ainda, em positiva ou negativa, um exemplo típico desse tipo de teste é o flexiteste de Pavel e Araújo. Já os testes lineares, expressam seus resultados em escala de distância, tipicamente em centímetros ou polegadas, o teste de sentar e alcançar, e extensão de tronco e pescoço se classificam nesse tipo de teste (DANTAS, 1999).
Um único teste não é capaz de avaliar generalizadamente a flexibilidade corporal dos indivíduos, desta forma, cabe ao avaliador procurar um teste que se enquadre no perfil da avaliação que ele pretende realizar. Ou seja, cada teste avalia uma dada região, por exemplo, o teste de sentar e alcançar, que é um dos testes mais utilizados para mensurar a flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores.

2.2 A IMPORTÂNCIA DA FLEXIBILIDADE NA ARTICULAÇÃO DO QUADRIL

O quadril é uma articulação muito complexa, que liga o osso da coxa (fêmur) ao osso da pelve (acetábulo), esse arranjo articular destina-se a proporcionar estabilidade e mobilidade (KONIN, 2006). Os movimentos da região do quadril são realizados por uma única articulação, denominada Coxofemoral. Essa articulação é considerada sinovial e esférica, e possui três eixos e três graus de liberdade de movimento. O eixo-transversal está situado em um plano frontal, em volta do qual se realizam os movimentos de flexão/extensão; o eixo ântero-posterior localiza-se num plano sagital passando pelo centro da articulação, em torno desse eixo se efetuam os movimentos de abdução/adução; há também o eixo vertical, que permite os movimentos de rotação interna e externa (PALMER & EPLER, 2000; KISNER & COLBY, 2005).
Os músculos tem um papel essencial na estabilidade do quadril. Nessa região eles se classificam em: músculos flexores, músculos extensores, músculos abdutores, músculos adutores e músculos roladores externos e internos. O encurtamento e a fraqueza dos músculos extensores do quadril podem limitar sua amplitude de flexão e reduzir a amplitude articular e, pode também reduzir a flexibilidade da musculatura flexora do quadril comprometendo o desempenho da mobilidade articular (CRISTOPOLISKI, et al. 2008).
Segundo Kisner e Colby (2005) uma má biomecânica do quadril devido ao desequilíbrio de flexibilidade e força muscular pode predispor dores no quadril ou perpetuar dores já existentes, também pode afetar os membros inferiores durante atividades com apoio do peso, causando assim, síndromes de uso excessivo ou sobrecarga em algumas regiões como joelho e tornozelo. Dentro desta perspectiva, a manutenção da funcionalidade dos músculos do quadril que atuam ao redor desta articulação, possui um papel importante, logo, faz-se necessária a procura por estratégias que visem reduzir a perda da flexibilidade nessa região (CRISTOPOLISKI, et al. 2008).

3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

De acordo com Silva e Menezes (2008) o presente estudo enquadrou-se como pesquisa aplicada, quantitativa e descritiva, com característica de estudo de caso.

3.2 AMOSTRA

A amostra utilizada no estudo foi obtida de forma intencional e por acessibilidade, foi constituída por 35 voluntários do sexo masculino, na faixa etária de 20 a 29 anos, oriundos de diferentes grupos de capoeira da zona norte de Teresina-Piauí.
Critérios de inclusão:
a) Gênero masculino;
b) Treinar capoeira regularmente nos últimos doze meses (no mínimo duas e no máximo cinco vezes por semana);
c) Ter idade entre 20 e 29 anos.
Critérios de exclusão:
a) Praticar outra modalidade esportiva além da capoeira;
b) Ter histórico cirúrgico da região lombar, quadril e/ou membro inferior nos últimos dois anos;
c) Apresentar dor na região lombar, quadril e/ou membro inferior (de qualquer origem ou forma).

3.3 INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

Para medir a flexibilidade do quadril foi utilizado o banco de Wells, que é um instrumento composto por uma caixa de madeira com as seguintes dimensões: largura (35 cm), altura (35 cm) e comprimento (40 cm), na parte superior, há um prolongamento de (26 cm) com uma escala numérica, cujo valor máximo é (56,5 cm), separados a cada (0,5 cm). Com este instrumento foi realizado o teste de sentar e alcançar, proposto por Wells e Dillon em 1952, que tem a finalidade de medir a flexibilidade do quadril, dorso e músculos posteriores dos membros inferiores.

3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS

Para a efetivação da pesquisa, foi elaborada uma rotina de trabalho que constou de três fases. Primeiramente foi reunido um grupo de capoeiristas para informar sobre a pesquisa que seria realizada. Em seguida os capoeiristas preencheram uma ficha de identificação, que continha pergunta sobre a quantidade de anos que eles praticavam capoeira e quantos dias os mesmos treinavam por semana. Logo depois foi agendada a data para realização do teste de sentar e alcançar.
Durante o teste, o avaliado fica posicionado sentado no chão, com os joelhos estendidos e pés apoiados na base do instrumento. O avaliado mantém os braços elevados, com as mãos sobrepostas de modo a realizar uma inspiração, e em seguida expira concomitantemente a flexão do tronco, tentando alcançar a maior distância possível, encostando os dedos na régua do banco. Esse procedimento foi demonstrado pelo pesquisador, em seguida, cada indivíduo repetiu o procedimento demonstrado para que se pudesse perceber o domínio correto de cada um. Após isso, o teste foi realizado três vezes com cada sujeito da amostra, sendo que o valor utilizado para fins de registro foi o de maior medida entre as três tentativas.

3.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS

Os dados coletados foram exportados para o programa de geração de gráficos Microsoft Excel 2007, para que fossem calculados os valores médios , percentuais e desvio padrão. Os resultados obtidos foram classificados de acordo com o nível recomendado para boa saúde sugerido por Nieman (1999). (Anexo A)

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão apresentados por meio de tabelas e gráficos comparativos, em que serão observados os dados obtidos em relação à descrição das características da amostra e ao nível de flexibilidade do quadril alcançados pelos capoeiristas pesquisados.
A utilização de indicadores da flexibilidade são comumente utilizados como indicador de saúde, sendo que baixos níveis nessa variável possuem fortes associações com o aparecimento de lesões e dores na região lombar e/ou quadril, dessa forma, acredita-se ser sumamente importante saber parâmetros para que se possa estimar até que grau a flexibilidade pode afetar nas atividade diárias e esportivas dos indivíduos (BARRA & ARAÚJO, 2007; KISNER & COLBY, 2005).
Pode-se observar na tabela 1, a seguir, que os participantes desse estudo apresentaram idade média de 24,34 anos, com o desvio padrão de ± 2,79 anos, e o tempo de prática da capoeira com média de 8,97 anos e desvio padrão de ± 3,95 anos. Sabe-se que a flexibilidade pode diminuir com o aumento da idade, mas, os indivíduos que permanecem ativos tem tendência a manter seus índices ou desenvolver novos índices de flexibilidade, desde que tenham um treinamento apropriado (DANTAS, 1999; ACHOUR JÚNIOR 2009).

TABELA 1 – Valores descritivos, média e desvio padrão, para variáveis de idade e tempo de prática.

AMOSTRA IDADE MÉDIA SD T. PRÁTICA SD
35 sujeitos 24,34 anos 2,79 anos 8,97 anos 3,95 anos

Em relação ao nível obtido por cada praticante, como pode ser observado no gráfico 1, percebe-se que a maior parte dos capoeiristas avaliados obtiveram níveis de flexibilidade acima de 30 cm. Isso demonstra que as rotinas dos treinos realizados na prática da capoeira podem proporcionar aos seus adeptos a aquisição e o aumento da flexibilidade do quadril. No entanto, o treinamento ou a falta dele, não é o único fator que pode influenciar o nível da flexibilidade nos indivíduos, autores como Barbati (1981), Alter (1999) e Watkins (2001) citado por Schmidt (2005) concordam que a estrutura da articulação, a hereditariedade, o sexo, fatores externos, como horários e temperatura ambiente, podem influenciar diretamente o nível da flexibilidade dos indivíduos.

Gráfico 1 – Valores individuais dos níveis de flexibilidade obtidos pelos capoeiristas.

As porcentagens obtidas referente à classificação do nível de flexibilidade obtidas pelos capoeiristas, observado no gráfico 2, apontaram que 26% ou 9 praticantes se encontram dentro do nível recomendado, enquanto que 23 sujeitos ou 65% estão acima desse nível e apenas 9% ou 3 praticantes não alcançaram o nível recomendado para a saúde proposto por Nieman (1999), que na faixa etária estudada é de 30 a 39 cm.
O fato desses indivíduos não chegarem ao nível estabelecido, pode ter ocorrido em razão da amplitude de movimento ser específica de cada articulação do corpo. Por exemplo, um atleta pode ser flexível nos quadris, mas, rígido nos ombros, ou rígido no quadril direito e flexível no esquerdo (ALTER, 1999a). Outra argumentação para tal acontecimento encontra-se nos estudos de Cristopoliski et al. (2008) em que os autores afirmam que o encurtamento e a fraqueza dos músculos extensores do quadril podem comprometer o desempenho da mobilidade articular nessa região.

Gráfico 2 – Classificação de acordo com o nível recomendado para a saúde.

Estudos mostram que a flexibilidade é uma qualidade física que apresenta declínio em seu desenvolvimento mais precocemente que as demais. Oliveira (2001) citado por Cruz et al. (2010) afirma que ocorrem diferenças importantes entre os 20 e 30 anos, e que isso não acontece da mesma forma com valências como força e capacidade cardiorrespiratória. Achour Júnior (2006) acrescenta que nas idades mais avançadas o que é questionado é se a flexibilidade diminui em razão do aumento da idade ou se são feitos menos movimentos, ou ainda se por ambas as causas.

TABELA 2 - Média, desvio padrão (sd), valor mínimo e valor máximo obtido no Banco de Wells (em cm).

MÉDIA SD MÍN MÁX
40,87 cm 6,67 cm 23,0 cm 50,5 cm

Apesar de haver muitas informações sobre ser possível a perda dos níveis de flexibilidade com o decorrer da idade, pode-se observar, através dos achados demonstrados na tabela 2, que a média dos participantes da amostra está acima do nível sugerido por Nieman (1999). Segundo Hollmann e Hettinger (1989) citado por Marchand (2002), as pessoas que praticam esportes regularmente apresentam maiores níveis de flexibilidade porque desempenham movimentos acima da média. Diante do exposto, torna-se visível, que a capoeira quando praticada de forma regular, além de desenvolver e aumentar o nível de flexibilidade, pode também manter essa qualidade física com o aumento da idade.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A capoeira é um assunto pouco estudado no meio acadêmico, por esse motivo, a dificuldade de encontrar produções científicas que relacione a prática da capoeira com a flexibilidade foi o maior desafio para a efetivação desse estudo, no entanto, os objetivos foram devidamente alcançados.
Diante dos resultados expostos, conclui-se que a capoeira quando praticada regularmente pode ser uma excelente atividade física para aquisição, manutenção e para o aumento da flexibilidade. Entretanto, recomenda-se que novos estudos sejam realizados, aprofundando o assunto, inclusive investigando outras variáveis, pois, acredita-se que, por não ter sido efetuado um estudo comparativo do nível de flexibilidade entre praticantes e não praticantes de capoeira, além de, não ter sido utilizado outros métodos de avaliação, considera-se os eventuais achados, limitados apenas para o presente estudo.

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NIEMAN, D. C. Exercício e Saúde. São Paulo: Editora Manole, 1999.

PALMER, M. Lynn; EPPLER, Marcia E. Fundamentos das técnicas de avaliação musculoesquelética. Traduzido por Giuseppe Taranto. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.

PLATONOV, V. N. A preparação física. Rio de Janeiro: Sprint, 2003.

REGO, Waldeloir. Capoeira angola: ensaio sócioetnográfico. Salvador: Itapuã, 1968.

SANTOS, Luiz Silva. Educação, Educação Física, capoeira. Maringá: Imprensa Universitária, 1990.

SCHMIDT, RF. A mobilização neural dos membros superiores e a sua influência na flexibilidade global. Monografia (Bacharelado em Fisioterapia), Tubarão: Universidade do Sul de Santa Catarina; 2005. Disponível em: . Acesso em: 07 dez. 2010.

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SILVA, E. Lúcia da; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3. ed. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC,2001. Disponível em: . Acesso em: 05. Jan. 2011.

SILVA, Robson Carlos da. Capoeira: o preconceito ainda existe?. Teresina: Gráfica Ipanema, 2008c




* GEORGE FREDSON DA ROCHA SERRA (Mestre Touro) - É professor de Educação Física e Mestre de Capoeira do Raízes do Brasil

sexta-feira, 17 de junho de 2011

CAMPEONATO REGIONAL DE CAPOEIRA RAÍZES DO BRASIL

O CURSO É ABERTO PARA TODOS OS GRUPOS VENHA E PARTICIPE!!!


DE 17 A 20 DE AGOSTO DE 2011
CURSO E PALESTRA

INSCRIÇÕES:
CADASTRADOS: R$ 10,00
NÃO CADASTRADOS: R$ 40,00
OBS: COM DIREITO A PARTICIPAÇÃO E CAMISA DO EVENTO

INFORMAÇÕES:
mestretucano@hotmail.com - 86. 8856 4473
tourocapoeira-pi@hotmail.com - 86. 8806 1047 / 9903 8752
corujapi@hotmail.com - 86. 8852 3810 / 9974 9341

REALIZAÇÃO:

ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE CAPOEIRA RAÍZES DO BRASIL - PIAUÍ

DIREÇÃO:
MESTRE TUCANO, MESTRE TOURO E MESTRE CORUJÃO

domingo, 5 de junho de 2011

DESENVOLVIMENTO TECNICO DA CAPOEIRA INFANTIL NA FAIXA ETARIA 5 A 6 ANOS DO COLEGIO MARISTA - DF

Apenas na posição agachada. E utilizada quando o capoeirista não possuiu a noção exata se o golpe vem da direita ou da esquerda ou quando o golpe é desferido com rapidez, pois é fácil de ser executado. (LIMA, 2007)
Role movimento por meio do qual o capoeirista enrola o corpo rapidamente no chão com o auxilia das mãos e dos pés, afastando-se ou aproximando-se do seu oponente. (LIMA, 2007)

RESULTADOS:

O gráfico 01 demonstra a faixa etária das crianças que participam das aulas iniciais de capoeira no Colégio Maristinha.
Gráfico 1: Faixa etária


O presente estudo tem como objetivo observar e comprovar que através da técnica da capoeira infantil, utilizando brincadeira e jogos lúdicos, ajudam o desenvolvimento motor e psíquico das crianças. A metodologia utilizada foi ensinar movimentos básicos da capoeira com crianças de ambos os sexos que iniciaram a capoeira no inicio do mês de agosto, no Centro de Ensino Marista, localizado na Quadra 609 L2 Sul – Brasília – DF. A amostra foi composta por 12 crianças, com idade entre 05 e 06 anos, de ambos os sexos, estudantes do colégio tendo que ter um único critério nunca ter praticado capoeira. Conclui-se que existe um ganho muito grande no desenvolvimento motor, psíquico e ainda contribui para melhorar o aspecto social.

Palavras-chave: Educação Infantil. Capoeira. Crianças.

INTRODUÇÃO

Desde de 1960 a capoeira tem sendo inserida dentro das escolas, fazendo parte de uma Instituição, juntamente com a familia, tem papel central no processo educativo de crianças e jovens. Nos últimos anos, a inserção da capoeira tem sido um processo bastante significativo nas principais regiões do Brasil. Da mesma forma, nos diversos paises em que a capoeira se faz presente, observa-se processo semelhante. Frente a este fenomeno, ao qual é chamado de capoeira escolar, pesquisadores tem defendido dissertações e teses que abordam diferentes aspectos da relação entre capoeira e escola.
A maneira pela qual a capoeira é oferecida na escola pode-se diferenciar de uma instituição para outro. Na maioria das vezes, a capoeira é oferecida como uma atividade extracurricular, em que um professor ou Mestre de Capoeira trabalha com os alunos fora do periodo das aulas curriculares.
Em algumas escolas de educação infantil, a capoeira é oferecida como única opção de atividade fisica para as crianças por se acreditar que a gama de ações motoras presentes na capoeira possibilita o desenvolvimento integral dos alunos. Outras instituições oferecem diversas outras modalidades deixando a criança livre para escolher. Dessa forma, a atividade de capoeira também é ministrada por um especialista em capoeira que pode ser um Mestre ou um professor com ou sem formação na área de educação fisica.
O carater lúdico é um estado de espirito relacionado ao brinquedo, a alegria, ao jogo, ao prazer pela vida, a sensibilidade, à espontaneadade, à criatividade, à instituição, a imaginação e à liberdade. O lúdico é próprio do mundo da criança, que se encanta com a capoeira quando encontra nela esses elementos.
Segundo Soler, 2002, o jogo de capoeira pode ter muitas funções, entre elas serve para descobrir, depertando nos seus participantes uma contínua sensação de exploração e descobrimento; para relacionar; equilibrar, na medida em que o corpo e a alma entram em um circuito regulável de tensão e reçaxamento; para transmitir valores; cultura; entre outras funções.
Segundo o dicionário Aurélio (HOLANDA,2006), educação é um “processo de desenvolvimento da capacidade fisica, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando sua melhor integração individual e social”. Ou ainda, “ aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas”.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a composição da amostra foram selecionados n=12 crianças, sendo 11 meninos e 01 menina, entre 05 e 06 anos de idade, iniciantes das aulas de capoeira, único pré requisito para participar da pesquisa. Esses alunos fazem aulas extra curriculares de capoeira ministradas no colégio Marista - Maristinha, localizado na 609 L2 Sul – Brasília – DF.
O instrumento de pesquisa foi realizado através de observações e anotações feitas durante pós, as aulas que tinham duração de uma hora e ministradas nas sextas-feiras pelo próprio autor. Essas observações começaram a serem feitas no mês de agosto até novembro, com duração de quatro meses. Para avaliar e observar o desenvolvimento das técnicas
O instrumento de pesquisa foi observar a melhora das técnicas ensinada nas aulas lúdicas de capoeira, com os seguintes movimentos básicos técnicos: Ginga, aú, meia-lua de frente, cocorinha e role. Conceituaremos cada movimento pesquisado
Procedimentos: Foram observados os elementos citados acima e descriminados em baixo:
Ginga é um movimento característico da capoeira que consiste na sincronia de braço e perna executado pelo capoeirista em vai-e-vem harmônicos de avanços e recuos, iludindo o adversário e buscando a melhor oportunidade para deferir seus golpes e contra golpes.(LIMA, 2007)
Aú movimento que na capoeira corresponde ao posicionamento do corpo apoiado nas mãos (em representação ao desenho da letra a) com os pés erguidos e abertos (em representação ao desenho da letra u).(LIMA, 2007)
Meia-lua de frente consiste no movimento de adução da perna estendida, porém passando pela linha média do corpo. É, como o próprio nome indica: desenhar uma meia lua com os pés. (LIMA, 2007)
Cocorinha esquiva de capoeira na qual o praticante se abaixa de frente para o adversário, com os braços protegendo o rosto, não sendo admitido que nenhuma da mãos vá ao chão. O apoio do corpo deverá ser apenas sob os pés, podendo estar estes sob a ponta ou não. Esquiva simples que consiste


O gráfico 2 demonstra o desenvolvimento das técnicas básicas de capoeira durante os meses de pesquisas e a quantidade de alunos que conseguem executar os movimentos corretamente.

Gráfico 02: Desenvolvimento

DISCUSSÃO
Algumas informações são fundamentais para analisar a participação das crianças neste projeto de pesquisa Percebe-se analisando o gráfico 01 que a maioria das crianças são meninos na faixa etária entre 05 e 06 anos, e mostra que ambos os sexos podem realizar esse esporte sem nenhum preconceito. O gráfico 02 mostra que a maioria das crianças conseguiram aprender da maneira correta os movimentos primários da capoeira A metodologia utilizada e a experiência do professor teve muita influência facilitando o aprendizado e a compreensão das crianças, confirmando essa informação (SILVA E HEINE, 2008) quando dizem que em uma outra situação a capoeira pode ser utilizada como conteúdo das disciplinas escolares por um professor que já trabalhe na escola e que possua conhecimento de capoeira. A capoeira é jogada em dupla. Além da dupla que joga, para formar uma roda de capoeira, é necessário um grupo de outros capoeirista que batam palmas, cantem e toquem instrumentos. A capoeira é um fenômeno social em que existe uma constante interação entre os seus participantes. Como afirma (SODRÉ, 2002) por trás dela não se abriga o “eu” isolado e onipotente, e sim o grupo – múltiplo diferenciado, polimorfo, coletivo de alma – que faz eco criativo a uma tradição ritualística, musical, narrativa e corporal de origem negra. Com isso vemos como é essencial a presença de valores e fundamentos como cooperação, respeito e amizade. Quando se joga capoeira, a criança aprende a respeitar a integridade física e moral dos colegas. Ensina também a respeitar as regras, as tradições que envolvem as práticas, o ritmo que a orquestra impõem, os mais velhos e os mais novos, todos com suas qualidades e dificuldades. Existe um consenso que a figura do Mestre de Capoeira deve ser especialmente respeitada, por uma questão de hierarquia e tradição. Isso contribui para a percepção de respeito aos mais velhos, por aqueles que possuem maior experiência e sabedoria. Da mesma forma, os mais novos e iniciantes devem ser respeitados no jogo de capoeira, pois o respeito começa antes do individuo ser capoeirista, pela sua condição de ser humano. Também no jogo de capoeira, pode-se desenvolver a consciência da individualidade e do respeito às diferenças, em que crianças, jovens, adultos e idosos, brancos, negros, amarelos, índios, mulatos e caboclos, ricos e pobres integram em constante dinâmica e desenvolvem um sentido real de democracia.

CONCLUSÃO

Conclui-se com a essa pesquisa que a capoeira é uma grande educadora e tem um papel muito importante no processo educativo com as crianças. A capoeira pode educar se o praticante envolver-se com ela, com seus rituais, seus movimentos, sua história, sua música, sua filosofia, seus mestres, seus professores e seus camaradas na roda. Além da divulgação cultura que precisa ser feita.

REFERÊNCIAS
SILVA, Gladson de Oliveira, HEINE, Vinicius. Capoeira: um instrumento psicomotor para a cidadania – São Paulo: Phorte, 2008.
HOLANDA, A.B. Mini-Aurélio. O Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Positivo, 2006.
SODRÉ, M. Mestre Bimba: Corpo de Mandiga. Rio de Janeiro: Manati, 2002.
LIMA, Mano. Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento Editora, 2007.


* William Siqueira de Oliveira (Mestre Cará) - É professor de Educação Física e Mestre de capoeira do Raízes do Brasil/DF